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Dia Internacional dos Monumentos e Sítios | 2025

Património Resiliente Face às Catástrofes e Conflitos

 

Notas Históricas:

Os impactos da terceira invasão francesa (1810-1811)

Durante a terceira invasão francesa (1810-1811), a região da Cova da Beira, especialmente a Covilhã, sofreu fortemente com os impactos do conflito. Antecipando os riscos, o Marechal Beresford emitiu ofícios instruindo os administradores da Real Fábrica da Covilhã a protegerem seus bens e manufaturas, já que o plano de defesa do Reino não oferecia proteção imediata à vila. Em resposta, os administradores optaram por encerrar temporariamente a fábrica, temendo saques e destruição. No entanto, Beresford esclareceu depois que o objetivo era apenas alertar, e não causar pânico ou paralisar as atividades. Ressaltou que o encerramento prematuro das fábricas poderia causar mais prejuízos do que o roubo de produtos pelos invasores.

Apesar dos esforços para salvaguardar os bens, os franceses causaram danos severos. Oficinas e teares foram destruídos, materiais extraviados, e o funcionamento da Real Fábrica foi profundamente comprometido. Entre 1810 e 1813, a Sociedade das Reais Fábricas da Covilhã, Fundão e Portalegre permaneceu encerrada, apesar das tentativas do Príncipe Regente D. João de reativá-las. Somente em 1813 foi ordenada a sua reabertura, contudo a recuperação só começou de forma gradual em 1820, sob a nova administração de António Pessoa de Amorim.

O encerramento das fábricas afetou diretamente o fornecimento de panos para os fardamentos do exército português, obrigando a Inglaterra a suprir parte dessa necessidade. A retirada francesa, em março de 1811, foi marcada por extrema violência e pilhagens, com tropas invasoras cometendo atrocidades contra a população. Os efeitos das invasões prolongaram-se além da guerra. Por volta de 1814-1815, autoridades locais relatavam a inexistência de produção de lanifícios. Em 1815, a Real Fábrica da Covilhã encontrava-se num estado deplorável: seus teares, caldeiras e equipamentos encontravam-se inativos ou arruinados. A destruição das fábricas e dos utensílios técnicos foi uma das consequências mais graves da presença francesa, levando à paralisia quase total da indústria de lanifícios da região.

Diogo Fonseca, 2025

Imagem: Mappa do itinerario que trouxe o Marechal Massena, quando com o seu exercito invadiu o reino de Portugal em Setembro de 1810... Gravura de João Palha, Lisboa: Lithographia da Imprensa Nacional, [s. d.].